sábado, 30 de agosto de 2008

Memórias

Mas a prata refletia a luz. Rosas tão delicadas. Rosalind. Ele precisava de um presente de despedida para ela, quando ela voltasse de Baden. Um caso de amor deve começar e terminar com certa dose de verve, mesmo que você não tenha se comportado de maneira impecável o tempo todo. Ele manuseou os fechos, estudando-os com atenção. Sim, um habilidoso joalheiro - ele conhecia o homen certo - seria capaz de confeccionar um par de brincos das rosas, um par perfeito de botões. Rosalind, cuja beleza era de uma espécie exuberante, gostava de jóias sutis, pequenas.

Afinal de contas, o que ele tinha que ver com a Bíblia da família Mittl? Pelo menos, ela existia. Diferente das pilhas de Talmudes e outros livors judaicos atirados ãs chamas no decorrer dos séculos por ordem da igreja de herr Mittl. O que importava se ela não tivesse mais seus fechos? Ehrlich cobrava um preço exorbitante por seu soro. Brincos para Rosalind eram uma compensação apenas parcial pelo que ele teria que gastar. Ele olhou mais uma vez para os fechos. Notou que as penas, feitas para circundar as rosas, tinham uma curva que sugeria uma asa protetora. Seria uma pena não usá-las, também. O joalheiro podia fazer um segundo par de brincos, talvez. Por um instante, ele pensou nos membros delicados, como de um pássaro, e nos olhos adocicados...

Não. Para ela, não. Por enquanto. Talvez nunca, Pela primeira vez em anos, ele não sentia a necessidade de uma amante. Ele tinha Anna. Bastava pensar nela e imaginar a mão de um estranho a tocando que se sentia tomado de desejo. Ele sorriu. Que apropriado. Um par de asas, reluzindo em meio aos cabelos escuros de seu Anjo Caído.

Geraldine Brooks em As Memórias do Livro

Um comentário:

Anônimo disse...

amor judeu ... esse me interessou deveras! DMOT