terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Sawabona


Sem tempo e idéias para escrever, deixo aqui um texto antigo, mas nem por isso
desinteressante. Enjoy!!!!


Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o início deste milênio. As relações
afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando
o conceito de amor. O que se busca hoje é uma relação compatível com os
tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar
junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro
pelo seu bem-estar.
A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o
romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico
parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra
metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de
despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher.
Ela abandona suas características, para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria
da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu
não sei. Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia prática
de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal. A palavra de ordem deste século é
parceria. Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e
desejo a companhia, mas não preciso,o que é muito diferente.
Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo
o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas.
Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro,
com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração.Não é príncipe ou
salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.
O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando,
para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade,
o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta
da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral.
A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa a aproximação
de dois inteiros, e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que
conseguirem trabalhar sua individualidade.
Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma
boa relação afetiva. A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá
dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar
sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de
concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de
pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém. Muitas vezes, pensamos que o
outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto.
Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo
interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a
paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não a partir do outro.
Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças,
respeitando a maneira de ser de cada um. O amor de duas pessoas inteiras é bem mais
saudável. Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo
ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém; algumas vezes você tem
de aprender a perdoar a si mesmo..

.PS: Caso tenha ficado curioso(a) em saber o significado de SAWABONA, é um cumprimento
usado no sul da África e quer dizer: "Eu te respeito, eu te valorizo, você é importante para mim".
Em resposta, as pessoas dizem SHINKOBA, que significa: "Então, eu existo para você".

Flávio Gikovate
médico psicoterapeuta

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