sexta-feira, 28 de março de 2008

Um momento puro e de companheirismo

Rudy não demorou a tirar a moeda do bolso e colocá-la com firmeza no balcão. Olhou diretamente para os olhos de Frau Diller, coberto pelos óculos, e disse:

- Balas mistas, por favor.

Frau Diller sorriu. Seus dentes se acotovelavam para arranjar espaço na boca, e sua gentileza inesperada fez com que Rudy e Liesel também sorrissem. Por pouco tempo.

Ela se inclinou, procurou alguma coisa e reergueu o corpo.

- Pronto - disse, jogando uma única bala no balcão. - Misture você.

Do lado de fora, eles a desembrulharam e tentaram parti-la ao meio com os dentes, mas o açúcar estava duro feito vidro. Duro demais, até para as presas animalescas de Rudy. Em vez disso, tiveram que alternar chupadelas até a bala acabar. Dez chupadelas para Rudy. Dez para Liesel. Para lá e para cá.

- Isso é que é boa vida - anunciou Rudy, a horas tantas, com um sorriso de apreciador de doces - e Liesel não discordou. Quando terminaram os dois tinham um tom vermelho exagerado na boca e, ao caminharem para casa, lembraram um ao outro de ficar de olho aberto, para o caso de acharem mais uma moeda.

Naturalmente, não acharam nada. Não se pode ter uma sorte dessas duas vezes num ano, que dirá numa única tarde.

Mesmo assim, de línguas e dentes vermelhos, os dois desceram a Rua Himmel, vasculhando alegremente o chão na passagem.

Tinha sido um dia genial, e a Alemanha nazista era um lugar maravilhoso.

Markus Zusak em a menina que roubava livros

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